Júlio Morais, 17


Literatura: Horror, Ficção Científica, Ultra-Romântica, Suspense, Policial...

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[quinta-feira, fevereiro 14, 2008]

Ruas
(by Júlio)



A rua é escura
E logo o carro irá ultrapassar por sua lateral
Mas antes que me vá
Vejo-o ali, saindo do escuro
Da pista molhada pela qual acabei de ultrapassar a lateral

Agora passei a me indagar
Sobre o que ele fazia ali
A caminhar, para onde ia?

Uma garota sentada no banco da parada
Está com o joelho machucado
E rosto cortado
O que lhe acontecera?
Ali! Lá vem o ônibus!
Não irá pegá-lo, infelizmente sua linha ainda irá demorar a passar
Espero que venha a tempo
Não agüenta mais esperar

Mochila vermelha, All Star preto.
Quem é ele? Para onde vai?
Sobe a rua, com pressa.
Parece estar fugindo de alguém, de algo.
O que teria feito?
Algo de grandioso feito talvez?
Talvez...
Mas infelizmente já ultrapassei, e ele ficou para trás.
Com sua expressão assustada e pressa sem iguais
Como pude constatar pelo retrovisor.

São as ruas e as pessoas.
São as ruas e os carros.
Quem disse que o destino da viagem é sempre o melhor do objetivo?
O percurso se faz muitas vezes o mais interessante,
e inesquecível.
Basta observar os semblantes.


Escrito por Julio Capistrano || 8:07 AM

[domingo, dezembro 09, 2007]

Aqui está um epílogo esclarecendo o conto Guilda dos Garotos de Programas, o qual deixou um ar de mistério sobre os personagens.

Boa leitura.

Adeus, Kennedy
(By Júlio)



O sol atravessava o pára-brisa impetuosamente. Minha face nunca esteve tão molhada de suor. Olho para o lado, Kennedy parecia não se importar com o calor enquanto dirigia. A música no rádio não é de minha preferência, tratava-se de um blue mexerica. Meio dia e dezessete minutos, estávamos perdidos numa estrada em plena região desértica. As férias do meu amigo nunca puderam ser piores.

- Você não está com calor, Kennedy? – indaguei-lhe jogando meu chapéu de cowboy no banco de trás.

- Sim, um pouco.

- Deveríamos ter seguido pela estrada da direita.

- Ora, veja o lado bom. Podemos conhecer lugares surpreendentes mudando o rumo.

- Você disse a mesma coisa há minutos atrás, Ken.

- Está bem, vamos parar um pouco.

- Aqui?! No meio deste deserto?!

- Sim, há outro meio?

Eu realmente estava precisando parar e me refrescar um pouco. Então estacionamos próximo a um outdoor. Sentei-me a uma pedra ali perto, abri minha mochila e tomei um pouco de água da minha garrafa. Kennedy analisava o mapa da região que trouxera consigo.

Tanto eu quanto o Ken fazíamos parte de uma associação de garotos de programa de Nova York, os famosos “michês”. O Ken já estava no ramo há certo tempo, eu por outro lado, havia entrado há pouquíssimo tempo por falta de escolha do que fazer da vida. Afinal de contas, meus pais haviam morrido quando eu era menor.

- Não acha que já olhou demais esse papel? – disse-lhe olhando o mapa sobre seu ombro.

- Já olhei tanto que nem mesmo sei onde estamos mais.

- Até que enfim, garoto! – exclamei com um sorriso maroto.

A expressão de Kennedy não pôde ser diferente, realmente não entendera nada.

- Ora, já fazia tempos que estávamos perdidos e você não admitia isso! – continuei ainda sorrindo.

- Ta bem, Allan. Agora admito que estamos perdidos. – ele retrucou com um outro sorriso.

O destino é realmente um brincalhão. Desde a primeira vez que pisei naquela seita, Kennedy talvez fosse o membro que mais me chamasse a atenção. Seus gestos, gostos, idéias. Ele era realmente um cara diferente, sem falar que era um dos mais procurados para programas. Imagino como ele deve agir quando em trabalho, acho que até pagaria para vê-lo em ação. Eu até agora só havia realizado um programa para a guilda, fora bem lucrativo já que se tratava de um pederasta masoquista, não fora muito difícil para mim. Tenho quinze anos e o Kennedy vinte e cinco. Nós realmente desenvolvemos uma boa amizade dentro daquele meio, todavia ainda me pergunto o que o impulsionou a me convidar para sair de férias com ele. Thomas, o presidente da associação, não foi indiferente a isso e aceitou numa boa.

- Bem, garotinho. Acho que deve estar com fome.

- Ken, por favor! Eu não sou um garotinho!

- Ah, não?

- Não!

- Então quinze anos não é mais uma idade de garoto? – retrucou sobressaltando a sobrancelha.

- Pelo menos eu não penso como um garoto dessa idade... – disse-lhe cruzando os braços e sorrindo.

Ele então se abaixou e sussurrou em meu ouvido:

- Bom saber disso...

Não posso mentir. Aquilo foi realmente excitante. Mas logo ele retira-se e entra no carro.

- Vamos garoto que não é mais garotinho! – disse estendendo a mão fora do carro – Mais à frente encontraremos um local para almoçarmos, estou faminto. Você não?

Abaixei o rosto e sorri. Ele estava brincando comigo. Entrei no carro e partimos, a estrada parecia não ter fim.

O local era bem peculiar, a lanchonete tinha um imenso chapéu de cowboy como teto. Para minha surpresa havia pessoas ali, pensei que esse lugar tivesse sido esquecido por Deus e o mundo. Na realidade, o tipo das pessoas que ali pareciam freqüentar tratava-se de algo como viajantes, pude concretizar minhas idéias ao ver o tamanho número de carros e carretas estacionados na frente do estabelecimento. Eu e Kennedy nos sentamos ao balcão. Ele pediu uma cerveja, o que julguei imprudente, pedi apenas um sanduíche acompanhado de um copo de suco.

- Quem é o garoto, Ken? – perguntou o senhor que servia no bar.

- Ah! Este é o Allan. – e logo uma apresentação seguiu-se.

Ele se chamava Caio e era o dono daquele estabelecimento. Pelo jeito ele e o Ken já tinham algum tipo de amizade. Continuei o meu anódino fast-food enquanto observava todo o aposento. O Ken conversava com Caio sobre viagens e orientações locais, o que nos ajudaria a sair dali. Já acabado meu lanche, me junto aos dois na conversa, até sermos interrompidos por Caio que percebera os olhares de uma mulher sentada a alguns metros da gente. Eu não me enganara, certamente os olhares dela estavam voltados para Ken.

- Quanto ainda temos de economia, Allan? – Perguntou-me Ken, ainda encarando a moça.

Vasculhei minha mochila, contando o dinheiro de que ainda dispúnhamos.

- Acho que temos o suficiente para voltarmos para Nova York. – meu trocadilho foi perceptível tanto a Ken quanto ao Caio, eu não queria que Ken dormisse com aquela sujeita.

- Então não voltaremos hoje. – ele foi frio após sorver o resto da cerveja.

Levantou-se e foi até ela. Com seu sorriso sedutor e sua experiência como garoto de programa, ele iria conseguir muito dinheiro com aquela senhorita que parecia ter um bom status. Observei ao longe a astúcia de Ken, ele era realmente incrível. Não podia ouvir suas palavras, mas tinha certeza que utilizava uma lábia sem igual, seu sorriso era uma arma fatal.

- Você gosta muito dele, não é Allan? – disse Caio me quebrando a concentração.

Afirmei com a cabeça, uma expressão de desconfiança não pôde ser ocultada. Eu ainda mantinha parte da atenção nos dois. Averigüei a hora, já passavam das dezessete. Caio liga as luzes do bar, mais pessoas começam a chegar e serem servidas. Apenas espero. O diálogo entre os dois na mesa a poucos metros parecia não ter fim, a senhorita parecia se divertir e tanto com o charme de Kennedy. Aquela situação me deixava muito incômodo. A sujeitinha não era digna de desfrutar do carisma do Ken, não sem ter pagado nada antes. O cansaço me abate, meus olhos pesados pedem para me apoiar ao balcão e descansa-los um instante, sem resistir, rendo-me, adormeço.

*

- Mamãe? Onde está o papai? Ele não dormiu aqui esta noite?

- Não, Allan, meu filho, papai não veio para casa.

- Por quê? Ele está na casa do vovô?

- Não, meu filho, papai viajou para bem longe...

- Você está chorando mamãe?

- Não, não... Já está pronto para ir ao colégio, meu filho?

- Sim!

- Tem alguém na porta, mamãe. Pode deixar que eu atendo.

- Não! Allan! Deixe que eu atendo. Fique aqui no quarto e não saia até eu voltar. Vou deixar a porta fechada, não abra por nada no mundo. Está ouvindo, Allan?

- Sim, mamãe...

*


Acordo. Alguém me chama tocando meu ombro. Levantando meu rosto, vejo Ken e a sujeita atrás de mim.

- Que horas, Ken? – indaguei-lhe um pouco sonolento.

- Dezoito e vinte dois – respondeu ao olhar o relógio de parede do bar. – Ouça, iremos embora daqui amanhã cedo. A propósito, esta é Sandra. Vou deixá-la na casa da amiga que mora há alguns quilômetros. Prometo não demorar, está bem?

Permaneci em silêncio. Foi falta de educação da minha parte não ter cumprimentado a Sandra, mas eu realmente não faria questão de agradá-la, o Ken já iria cuidar disso. Após um breve momento de olhares entre nós eu afirmo com a cabeça e levanto-me do balcão, pego minha mochila e pergunto onde fico.

- Tome a chave, Allan. – Caio interrompeu – O quarto fica no piso de cima, é o último do corredor. Não é nada de extraordinário, mas é o melhor de que posso dispor.

- Tudo bem, Caio. Não precisa se preocupar com isso. – utilizei de um sorriso e me voltei para os dois – Ainda estão aqui? A estrada é longa e perigosa.

Apesar das risadas que se seguiram, eu realmente não estava nem um pouco feliz com aquilo, agora eu teria de dormir num quarto de um bar futrica. Contudo, quem foi mesmo que aceitou sair de férias com o Ken? Infelizmente não posso reclamar.

Primeiramente, ciúme é posto apenas em relação a casais. Portanto, eu não poderia estar com ciúme, afinal não tenho nenhum caso com o Ken. Será que ciúme também se aplica a amizade? Eu realmente não sei a quem estou querendo enganar. É evidente que gosto dele. Todavia, não é algo de tão admirável nota. Gosto do Kennedy assim como gosto de qualquer outra pessoa com quem eu me relacione com algum fim lucrativo, trata-se mais de desejo.

Eu deveria dar umas boas tapas no Caio. Nada de extraordinário não passou de uma modéstia de sua parte. O quarto é realmente aconchegante, uma suíte na verdade. Faz jus à categorização de melhor do bar. Um banho nunca foi tão bom, para ficar melhor eu só precisava de uma daquelas massagens orientais. Sento-me à cama, apenas de toalha. Fico pensando em quanto tempo o Ken ainda vai demorar, talvez só volte pela manhã já que vai arrecadar bastante com a Sandra. Esta idéia ainda não me fora aceita, estava curioso, aflito, preocupado. Um misto de tudo isso. Deito-me. Procuro pelo quarto, mas não há nenhum aparelho de som para minha insatisfação. Sem TV e som eu estava confinado naquele quarto enquanto esperava Ken. Não, eu realmente não tenho o menor anseio por cair no sono. São dezenove e trinta e cinco. Ainda está cedo. Levanto-me e procuro uma roupa para vestir. Vasculhando a mochila, por acaso pego meu uniforme da seita. Acho que o Ken não virá tão cedo – penso comigo mesmo – não vai ser tão mal se eu sair um pouco. Visto o uniforme.

Sair pela porta de entrada do bar levantaria a curiosidade do Caio e eu não estou nem um pouco com vontade de bolar algo para despistá-lo. Decidi sair pela janela mesmo, já que um cano de aparar chuva se fez útil a minha descida. Já estou caminhando pela estrada, é algo bem paradoxal já que a pista é tão quente ao dia e tão fria à noite. Agora, já um pouco distante do bar, um carro vem vindo na mesma direção que eu.

- Perdido, criança? – perguntou o senhor barbudo e grisalho ao pôr a cabeça para fora, desacelerou o automóvel.

Eu odeio ser chamado assim, mas como se trata de um desconhecido irei fazer uma exceção e não lhe darei uma preleção de protesto.

- Mais ou menos, meu senhor.

- Você não está acompanhado?

- Sim e não – disse-lhe brincando.

- Para onde está indo?

- Estou procurando a casa de uma pessoa. Sei que é aqui perto, mas ainda não encontrei e preciso achar o quanto antes como pode ver.

- Sim, não é bom andar por estas bandas assim. Venha, entre e tentamos achar o local.

- Muito obrigado, senhor.

Não era uma casa. Na verdade sim, levando-se em conta que era móvel. Era um trailer. Não restaram dúvidas ao avistar ao longe o abrigo, só podia ser ali onde eles estavam. Pedi ao sujeito que me deixasse ali, ainda bem que não demoramos a encontrar, o fedor que havia dentro daquele carro atrelado já estava me causando enjôo.

Aproximei-me sem problemas, havia luzes dentro do trailer acesas. Observei cautelosamente por uma das pequenas janelas e parecia que não havia ninguém ali dentro. Correndo à janela do outro lado, constatei que em nenhuma parte do trailer estava alguém. Intriguei-me. Mas onde poderiam estar? Caminhei até a porta, abri facilmente. Tudo estava muito estranho, por que será que saíram e deixaram o trailer a mercê do destino? A mercê das circunstâncias; de estranhos como eu? A cama foi usada há pouco tempo. Pelo tamanho a transa deve ter sido bem desajeitada. Os lençóis possuíam o perfume dos dois, mas onde estariam? Um ruído me alertou, talvez fossem eles que agora chegavam. Rapidamente procuro um lugar para me esconder: debaixo da cama, detrás da cortina... Não! Estes lugares são evidentes demais para que descubram! Mas como estou sem tempo, decido me incutir dentro de um armário adjacente à parede, por sorte não era utilizado para guardar algo.

- Enfim... Pensei que fôssemos demorar mais para chegar aqui. – a voz pertencia a algum homem que eu não conhecia.

- Ora, Douglas. Já chega de seus sarcasmos. – era a voz da Sandra.

- Pois é, tivemos que aturar este tipo de coisa todo o caminho. – disse Kennedy.

- Vocês deveriam estar um pouco mais tranqüilos, afinal eu sei bem o que rolou nesta cama. – alguém se sentou à cama, provavelmente o tal Douglas. – Mas, vocês sabem o real objetivo de eu ter vindo até aqui.

- Sim, claro – afirmara Ken. – O garoto está num bar aqui próximo, hospedado.

- Ele parece ser uma ótima pessoa, se não fosse tão novinho... – a Sandra brincava. Mas o que eles queriam comigo?! – não vai ser fácil engana-lo, Douglas.

- Ora, diga isso para si mesma, ma petit. Eu só preciso arranjar um modo de eliminá-lo sem deixar pistas.

Um suspiro de susto foi abafado por minhas mãos levadas subitamente à boca. Eles planejavam me matar! Maldito Kennedy! O que esconde afinal?

- O Allan é inteligente, Douglas. Você deve tomar bastante cuidado. – disse Ken.
Gargalhadas de Sandra e do tal Douglas seguiram-se.

- Ken, ele só tem quinze anos... – Sandra enfatizara. O que me acresceu tamanho ódio por aquela sujeitinha.

- Vejam bem, temos que andar logo com isso. Ainda amanhã tenho de partir para a África, resolver outros problemas por lá.

- Claro, Douglas. O bar fica há alguns metros mais a frente. Boa sorte. – disse Ken.

- Como assim? Você não vem comigo?

- Não. Nosso trabalho já está feito. Agora é com você. – disse Sandra.

- Ótimo, muito obrigado. Mas só irei pagar depois que eu tiver certeza que aquele garoto não respira mais. Assim como o fiz com seus pais.

Meus pais? – eu pensava – então aquele era o sujeito que assassinou minha mãe? E meu pai? Sempre pensei que sofrera um acidente de carro.

*

- Quem é?

- Abre isso!

- Seja quem for, vá embora!

- Abre logo essa droga!

- Solte-me! Eu chamarei a polícia!

- Vai mesmo? Eu acho que será meio difícil depois que você estiver sem vida!


- Mamãe... Mamãe...

*

O chute nunca pôde ser mais forte. O casal que se beijava ao som de um clássico e à companhia de um saboroso champagne se surpreendeu.

- Allan! – Ken foi o primeiro a gritar surpreso.

- Você estava aí o tempo inteiro?! – Sandra acompanhou também assustada.

- Eu só lhes peço uma coisa: mantenham distância! – eu estrondava com tais palavras.

Ken saltou da cama e veio em minha direção. Corri e saí pelos fundos do trailer em direção ao deserto, ao nada, apenas terra e vegetação rasteira. Parei, procurando repor o fôlego, mas um facho de luz amarela repentina fez-me voltar e perceber que Sandra e Kennedy estavam em meu encalço. Pus-me novamente a correr. A mochila me atrasava pelo peso, abandonei-a ali, próximo a um arbusto, minha vida contava mais importância agora. A poeira elevava-se, eu estava o mais rápido que podia, meus suspiros há pouco se intensificavam. Precisava urgentemente de um local para despistá-los, entrei numa abertura entre duas enormes formações rochosas e subi até o topo do pedregulho. Lá me escondi detrás de um monólito rochoso. Observei os dois seguirem mais a frente, apressados, para o fim do pedregulho. Eles pararam, procuravam ao redor com uma lanterna carregada por Ken, retrai-me para trás da rocha a qual me oferecia esconderijo.

- Droga!!! – foi um grito histérico e estridente, Ken estava enfurecido por ter me perdido.

- Eu não acredito! Como pudemos vacilar desta forma?!

- Não sei! Mas eu devia ter pensado nisso! Eu sempre soube que aquele moleque era esperto!

Moleque?! Isso é pior do que qualquer diminutivo como garotinho ou criancinha! – imaginava com muita raiva.

Descuidado, Kennedy escorrega e despenca do pedregulho. Pude notar isso pelo grito de Sandra.

- Cuidado, Ken! Venha, segure minha mão. – ela dizia agachando-se para ajudá-lo.

Ao fazer isso, vi que ela portava uma arma na traseira de sua calça. Meus olhos arregalaram-se, aquela podia ser minha chance de investir. Sem mais hesitar, corri e tomei-lhe a arma. Agora eu apontava para Sandra que se surpreendeu e levantou-se, esquecendo de Kennedy que fazia de tudo para continuar ali seguro.

- Allan, por favor, nós temos de conversar. Não era nossa intenção entregar você! – ela falava alto tentando me convencer.

- Entregar-me? Para quem? Quem é aquele Douglas? – eu fazia várias perguntas sem deixar de empunhar a pistola contra eles.

Pelo jeito a Sandra me subestimava, enquanto eu fazia os questionamentos ela decidiu avançar contra mim, para tentar recuperar a arma. Mas tudo que conseguiu foram três disparos certeiros na nuca, ombro e cabeça. Ela foi impulsionada para fora do rochedo, despenhando-se bem ao lado de Kennedy. Se os tiros não a mataram a queda com certeza daria conta disso. Agora era com ele que eu necessitava dialogar.

- Então Kennedy... Vejo que está precisando de uma mãozinha... – eu satirizava sua situação.

- Allan, eu iria te tirar dessa! Eu juro que sim! Eu queria acabar com o Douglas para te livrar dessa!

- Ken, eu sei que você está sendo pago para isso, eu ouvi tudo lá no quarto.

- Acredite, por favor!

- Sabia que há algumas horas atrás eu até acreditaria, Ken? Há algumas horas atrás eu simplesmente te contemplava, via-te como uma das pessoas mais interessantes que já pude conhecer. Contudo percebemos que este tipo de pessoa é algo raro. Mas você pode se redimir ainda, explique-me tudo sobre esse tal Douglas.

- Você tem que me tirar daqui, Allan! Posso cair a qualquer segundo!

- Não até me contar acerca daquele sujeito que tanto me deseja morto.

- Ele era um dos concorrentes de seu pai. Seu pai que trabalhava no comércio de drogas, no mercado negro da América do Norte. Para subir nos negócios ele teve de assassinar seu pai, contudo ele achou pouco e decidiu se apossar dos negócios do seu pai. Dessa forma ele controlaria todo o contrabando da região, mas enquanto existirem membros da sua família ele nunca terá posse do comércio, pois ele precisa de uma constatação de que a empresa clandestina não possui mais herdeiros do dono. Por isso ele deseja tanto a sua morte.

*

- Pai! Pai! Vamos ao parque hoje!

- Não, Allan. Estou trabalhando. Deixe seu pai terminar de falar ao celular.

- Mas você sempre sai depois que termina de falar!

- É meu trabalho, filho. Preciso trabalhar para comprar roupas para sua mãe, comprar seus brinquedos e outras coisas para a gente.

- O que você faz, pai?

- Allan, já chega. Tenho de resolver algo importante. Vá brincar no seu quarto.

- Mas o que você faz, papai?!

- Allan, eu já pedi para você parar!

*


- Por isso ele nunca me contou o que fazia. – a lágrima foi inevitável.

- Allan! Allan! – Era tarde, o grito de Ken só me foi ouvido depois de alguns metros distante de mim.

Vi sua queda, seu impacto com o solo duro. Aquilo doeu em mim, ele morreu e eu nem mesmo sabia se ele dizia a verdade! Tudo viera a minha mente de uma só vez, como uma explosão nuclear. Minhas lágrimas molhavam o pedregulho morno e rígido, agarrava a escassa grama dali procurando consolo. Após este suplicio, levanto-me. Ainda tenho de pegar minha mochila e acertar as contas com o tal Douglas.

Ao retornar ao bar do Caio, vejo que uma grande aglomeração formou-se a frente do estabelecimento. Entro e vou à direção ao dono. Encontro-o morto sobre o balcão, vítima de um disparo de arma de fogo. Pobre Caio, não merecia sofrer o que sofreu por alguém que nem mesmo conhece direito. Fui ao quarto em que estava hospedado, ele estava totalmente revirado. Tirei meu uniforme da guilda, vesti uma calça jeans e uma camiseta preta.

- Está bem, garoto? – perguntou o policial que entrou ali, da perícia talvez.

- Não sou garoto, senhor policial. – disse-lhe sério, terminando de colocar o cinto. Ele sorriu.

- Mas você está ferido?

- Não, apenas perdido. – baixei o semblante.

- De onde você é?

- De Nova York.

- Com quem estava acompanhado?

- O Caio era meu tio. Não pude ver, mas um homem veio aqui e o assassinou.

- Lamento. Tem a quem recorrer em Nova York?

- Sim. – levantei o rosto, sorri suave.

- Então levaremos você até lá.

- Muito obrigado.

- Como se chama?

- Allan. – eu tomava a mochila nas costas.

- Mais algum problema em que possamos ajudar?

- Não. Meu único problema agora deve estar fazendo um lindo safári clandestino na África. – brinquei com uma piada interna.

- Como?

- Esqueça... Quando partimos? – saí sorrindo do quarto.


Escrito por Julio Capistrano || 11:46 PM

[terça-feira, setembro 04, 2007]

Fogo ao sol poente
(By Júlio)


E os meninos corriam incessantes,
De um lado para o outro.
As labaredas de chamas ateavam-se ao longo dos corredores,
Janelas, soalhos e sótãos.
O colégio ardia no fogo escarlate
Era crepúsculo da tarde.

Gritos ecoavam próximos aos jardins,
Os meninos corriam, fugiam.
Acolá, cinzas
E as silhuetas dos meninos na fuga por ali.

Alguns sorriam.
E a cena constituía
Um todo
Maravilhoso, surreal.


Escrito por Julio Capistrano || 2:23 PM

Garoto Vitoriano
(By Júlio)


Botas pretas, alvas meias três-quartos
Entre a poluição industrial
Ele é o garoto do ano 1894

Sentado no batente,
Do dia corriqueiro,
Ainda quente
Observa os jornais no ficheiro

Macademas abaixo,
O teatro da cidade
Arranca berros de horrores
Dos aristocratas alucinados

Jack não fora encontrado
Lewis? Nem mesmo ouvira.
Mas era ali, longe de casa,
Que sonhava as fantasias.


Escrito por Julio Capistrano || 1:52 PM

[quinta-feira, junho 07, 2007]

Eu, hedonista
(by Júlio)

Eu sou aquele que pode habitar qualquer lugar
Aquele que vive em longa corrida, com muita pressa.
Sou o que pode apear qualquer face alheia,
O que pode, pueril, aniquilar um sentimento.

Mas também sou assombrado
Por meus pensamentos desconexos, insanos.
Embora eu esteja sob este suplício,
Sei que sou alguém que rebrota para a vida
A cada manhã chuvosa
Que encharca a cortina de minha janela.

Todavia, isto não me traz uma nova alma.
E esta água encharca minha pele,
Mas não me atinge, pois sou subaquático
E posso sentir a inundação iniciar
Tenho tempo para escapar.



Escrito por Julio Capistrano || 1:17 PM